Foi a primeira vez que a viu em anos, e ela continuava deslumbrante. Seus cabelos ruivos em cachos bem arrumados, muito diferente de quando se encontraram pela primeira vez. Quanto tempo fazia desde aquela primeira vez? Parecia ter sido em outra vida, mas poderia ter sido ontem. É difícil saber ao certo o momento que se conhece o primeiro amor.
Ele era apenas uma criança do ensino fundamental quando a casa ao lado da sua ficara pronta, para o alívio da sua mãe que reclamava muito da poeira da construção que sempre parava sobre os móveis. Algumas semanas depois eles chegaram, a família Simões, eram três. A mãe, Dona Fátima era como a chamávamos, era uma mulher de pouca estatura com um cabelo loiro que batia nos ombros, muito simpática e sorridente com os vizinhos. O pai, Seu Gusmão, era alto e forte, ostentava uma careca branca que não era comum pra idade dele, e sempre saia cedo e voltava tarde do trabalho, o cansaço por vezes visível em sua expressão. E a filha, Sarah.
Sarah tinha a mesma idade que ele, porém era pouca coisa mais baixa. Cachos ruivos se avolumavam sem nenhum controle sobre a cabeça, os olhos verdes sempre demonstrando uma sagacidade incomum pra idade, os lábios formavam um coração rosado que guardava um sorriso capaz de derreter um iceberg. E ao vela se mudando pra casa vizinha, já sentia uma felicidade no peito que levara anos pra perceber que se tratava de estar apaixonado.
Não demorou muito pra ele e Sarah se tornarem bons amigos. Frequentavam a mesma escola, inclusive era comum estarem na mesma classe. À tarde, por obrigação, faziam o dever de casa e depois iam brincar juntos. Sarah costumava brincar com os outros meninos da rua com mais frequência do que com as outras meninas. Ela dizia não ter paciência para as brincadeiras de meninas. Sarah vivia com o rosto e as mãos sujas, além de ser comum vê-la com escoriações nos joelhos e cotovelos. As mulheres da vizinhança diziam que ela parecia mais um menino que uma menina.
Para ele nada disso importava, Sarah se tornou rapidamente sua pessoa favorita. Queria estar sempre com ela, e tentava aproveitar os momentos juntos pelo maior tempo possível. E quando os hormônios vieram, passou a olha-la de uma maneira nova, e os imaginava nas cenas apaixonadas que via nas novelas. Mas foi após assistir um filme que tomou uma decisão e pediu ao seu pai para lhe colocar numa escola de musica, para aprender a tocar violão.
Meses se passaram, sua dedicação era visível e todos os adultos o elogiavam por aquilo. Mas a dedicação não era pelo amor à musica, ou ao instrumento em si. Ele tinha um plano, e decidira que seria daquela forma que o executaria, e assim mergulhou de cabeça no novo aprendizado com apenas esse objetivo em mente, focado no momento que em breve chegaria, e chegou na primavera seguinte.
Ele queria que tudo fosse perfeito, e planejou tudo com antecedência. Os meses de dedicação garantiriam que não estragasse nada naquele momento. E assim, naquela manhã de sábado, bateu na porta dos Simões e chamou Sarah para brincar como de costume. Ela saiu e mostrou certo espanto ao ver o violão que o garoto trazia consigo, mas não o questionou e o seguiu na expectativa das brincadeiras do dia. e assim foram pro jardim da igreja, que era grande e pouco movimentado,
Ele a levou até um banco do jardim, pegou o violão, e com as mãos suadas e tremulas começou a tocar a música que tanto ensaiara, o motivo pra toda sua dedicação, a música favorita de Sarah, "Let it Be" dos Beatles. Após finalizar a canção olhou no fundo dos olhos verdes dela e se declarou. E para sua alegria, Sarah retribuiu a declaração, pois ela também já gostava dele de uma forma diferente. A alegria estampada em ambos os rostos juvenis era linda de se ver. E assim selaram a maravilhosa descoberta com um beijo, que apesar de não passar de um selinho, fora a melhor coisa que os dois haviam vivido até então.
Na manhã seguinte, ele acordou ainda mais animado. Agora tinha uma namorada, e era a Sarah! Ele estava namorando a menina mais bonita que já viu na vida, e a vida era simplesmente maravilhosa. Mas ao bater na casa de Sarah sentiu que algo não estava certo. A casa parecia sem vida e vazia. Depois de bater mais de três vezes e não ter nenhuma resposta, finalmente Seu Gusmão saiu olhou para cara dele com uma fisionomia nada agradável apenas disse que Sarah não estava lá, antes de bater a porta da casa. Mais tarde descobriu que a Dona Fátima tinha separado do Seu Gusmão naquela noite, e se mudado da casa, levando Sarah consigo.
E assim eles nunca mais teriam se falado até que algumas semanas atrás ele recebeu uma mensagem, Sarah o achara na internet de alguma forma. Eles conversaram bastante online e ela o convidou para aquele momento. E naquele momento, em que ele a vira novamente depois de anos, ela estava deslumbrante. Ela possuía uma beleza natural que era estonteante, e isso só melhorava com toda a produção para o casamento. Sarah era de longe a noiva mais bonita que ele jamais viu e Eleanor era uma mulher de muita sorte por se casar com ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário